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  • 28 de novembro de 2024 07:11 07:38

Agronegócio tem muito a ensinar e outro tanto a corrigir

Agronegócio tem muito a ensinar e outro tanto a corrigir 1Foto : CNA/Wenderson

O agronegócio brasileiro produz muito. Não só para o mercado interno, como exporta carnes, café, açúcar, suco de laranja, frutas, soja, milho, etc. E como vende hoje para mais de 150 países, o agronegócio contribui para levar o Brasil, como se vê, a merecido destaque na economia global.

Do início dos anos 1990 para cá, a área plantada com grãos no Brasil dobrou de tamanho e a produção aumentou cinco vezes, saindo de 58 milhões de toneladas em 1990 para 311 milhões em 2023. Cresceu e evoluiu.

Por conta disso, “a agropecuária brasileira tem muito a ensinar para os outros setores da economia”, defende a economista Regina Couto em artigos e entrevistas, do alto de seus 30 anos de experiência, mais 500 palestras e passagens pela Serasa, Banco BBV e Bradesco.

O agronegócio brasileiro evoluiu com investimentos em tecnologia, automação e inovação e em pesquisas nas áreas de biotecnologia e clima, fundamentais para melhoria da produtividade no campo. E aprimora a gestão nas fazendas.

A automação avançou. O aumento da potência das máquinas, adicionada a engenharia de precisão nos equipamentos, trouxe ganhos operacionais nas fazendas, reduzindo a proporção de máquinas por hectare no campo.

Entre 1990 e 2022, enquanto a área plantada com grãos duplicou, a frota de máquinas usadas no campo cresceu apenas 23% (aumento de 572 para mais de 701 mil). Contas feitas, se nos anos 90 as fazendas usavam 15 máquinas para cada 1.000 hectares, hoje usam pouco mais de 9 – 85% são tratores de roda.

Novas tecnologias? De 2009 para cá estima-se aporte de US$ 325 milhões em 160 startups voltadas para o agronegócio. Atualmente estima-se mais de 360 dessas agtechs atuando no Brasil, 35% delas desenvolvendo especificamente softwares de gestão da produção agropecuária, uso de internet das coisas e análise de big data para o campo.

Além disso, pesquisas agropecuárias em biotecnologia e clima impulsionaram a produtividade e a eficiência na agricultura e na pecuária. Fora centros de pesquisas estaduais e alguns privados, os produtores brasileiros dispõem de 43 centros de pesquisa da Embrapa, 37 deles com nada menos que 20 anos de atuação. Investimento alto.

O PULO DO GATO

Mas como nada se faz sem dinheiro, o agronegócio brasileiro correu atrás de crédito. E conseguiu ampliar o crédito rural (boa parte subsidiado) e captar recursos do mercado de capitais.

Dados do Banco Central mostram que entre 2009 e 2023, o volume de crédito rural destinado a pessoas jurídicas mais que dobrou (saiu de R$ 33,9 para R$ 81,8 bilhões). E para pessoas físicas, o crédito rural aumentou mais de sete vezes (o volume subiu de R$ 61,3 em 2009 para R$ 470,6 bilhões no final de 2023).

O agronegócio também foi ao mercado de capitais atrás de dinheiro. A emissão de CRÁs, como são chamados os Certificados de Recebíveis do Agronegócio, aumentou quase 160% em apenas sete anos (de R$ 12,7 bilhões em 2016 saltaram para R$ 33,8 bilhões em 2023).

PARA ONDE FOI O LUCRO

No entanto, se o setor Agropecuário evoluiu e cresceu, melhorou produtividade e eficiência e com isso prouziu mais, exportou mais, faturou mais e lucrou mais, o ganho de renda não chegou proporcionalmente aos bolsos de grande parte dos produtores rurais.

Dados de declaração de IR apontados pela Receita Federal analisados pelo pesquisador Sérgio Gobetti, da FGV-IBRE — o Instituto Brasileiro de Economia — apontam que no Brasil, “descontando a inflação (pelo IPCA) de 31,4% entre 2017 e 2022, o aumento real de renda entre os mais ricos chegou a 49%, enquanto entre os mais pobres (e a classe média) foi de apenas 1,5% em média”. Até aí…

Mas o estudo de Gobetti aponta que, além do crescimento acima da média da população, “a renda da elite subiu mais nos estados em que, em geral, a economia é dominada pelo agronegócio”. Para a camada social (0,1%) mais rica da população, a renda real aumentou 131% em valores reais no Mato Grosso do Sul (MS) e 115% no Mato Grosso (MT).

O estudo mostra ainda que, se a Receita Federal abriu mão de cobrar mais de R$ 100 bilhões, essa elite abocanhou 42% da isenção concedida. Sem dúvida, a elite rural do Agronegócio está bem estruturada para aproveitar as oportunidades.

QUAL É O NÓ

Embora a pujança do Agronegócio brasileiro sirva de exemplo para outros setores da Economia, o setor ainda enfrenta desafios. A insuficiente infraestrutura de armazenagem, os entraves logísticos, as difíceis relações com governos (na vigilância sanitária, por exemplo), a comunicação e o marketing ruim com clientes externos e consumidores, ainda desafiam o setor.

Alfredo Passos, doutor em administração e professor de pós-graduação da ESPM — a Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo — lembra o que considera problemas crônicos no Agronegócio. “Ainda faltam educação, boa formação e treinamento”, disse em recente entrevista.

Passos tocou no nó que impede, por exemplo, que pequenos e médios produtores se beneficiem de isenções, obtenham crédito mais barato, sustentem posição diante da sociedade urbana, que vira e mexe derrama críticas ao setor, e consigam auferir maior lucro na atividade. Caso recente dos pequenos e médios produtores e trabalhadores rurais que ficaram fora do Pepro feito para a borracha colhida no campo. “Os pequenos produtores não estão preparados para tanta documentação exigida pela Conab”, disse um dos líderes do setor.

O agronegócio evoluiu, tem mesmo muito a ensinar… E outro tanto a corrigir.