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  • 28 de novembro de 2024 02:11 14:42

Deputados querem leis mais duras contra invasões de terra; 11 projetos tramitam na Câmara

Deputados querem leis mais duras contra invasões de terra; 11 projetos tramitam na Câmara 1Foto: MST da Bahia

Ao menos 11 projetos de lei apresentados na Câmara dos Deputados em 2023 visam a endurecer as punições em caso de invasão de propriedades. A discussão tem ficado mais intensa na casa às vésperas do Abril Vermelho, mês que marca ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) em todo o país.

No fim de semana, após negociação com a polícia, integrantes do movimento deixaram a Fazenda São Lukas, de propriedade da União, no município de Hidrolândia (GO). Os militantes reivindicam o assentamento de famílias e a retomada da reforma agrária no estado.

Um dos projetos mais radicais na Câmara, de autoria do deputado Delegado Caveira (PL-PA), sugere tipificar como ato terrorista a invasão de propriedades. A regra valeria para ocupações rurais e urbanas, de bens públicos ou particulares.

Na justificativa, o parlamentar critica o fortalecimento de movimentos sociais ligados à reforma agrária e afirma que as ocupações e invasões de terra “prejudicam a produtividade e o fomento”.

“É inconcebível que o setor, importante pilar econômico do nosso país e produtor de alimentos para o Brasil e o mundo, volte a viver esses momentos de insegurança e violência. Não se pode tripudiar com o direito de propriedade, o direito de ir e vir, e as ações desses ditos movimentos sociais trazem insegurança jurídica, principalmente para o campo”, diz Caveira.

Outro projeto de lei tenta impedir que pessoas que participaram de invasões de propriedade se beneficiem de programas de reforma agrária, de regularização fundiária ou de linhas de crédito.

Autor do projeto, o deputado Lázaro Botelho (PP-TO) argumenta que a medida iria “desestimular as invasões e contribuir para que os mais necessitados não sejam utilizados por falsos líderes”. Ele cita a prisão de coordenadores do movimento de invasão de terras, no início de março, por suspeita de extorsão contra proprietários rurais no interior de São Paulo.

Especialista em direito ambiental, o advogado Alessandro Azzoni explica que atualmente as questões de invasão de propriedades rurais estão enquadradas no Código Civil, nos artigos que tratam do direito à propriedade.

“Hoje é tratado como esbulho, turbação e ameaça. Esbulho é quando há a perda da posse, turbação, quando uma parte da propriedade é invadida, e ameaça se dá quando o proprietário da terra sabe que a terra vai ser invadida e, no caso, é possível entrar com uma ação preventiva. A legislação garante como ação imediata ações para retirar essas pessoas do local, desde que não seja empregada violência”, explica.

‘Ocupações são legítimas’, diz MST

Para o MST, a ocupação de propriedades rurais é “legítima”, e os projetos apresentados na Câmara tentam “perseguir e criminalizar a luta popular”. Em janeiro, o grupo elaborou um documento com as diretrizes para 2023. Entre os objetivos está o de “enfrentar o modelo do agronegócio, que concentra terras, destrói a natureza, promove o desmatamento e nos envenena com agrotóxicos”.

“A função social da propriedade é constitucionalmente garantida e atende a critérios de produtividade, ambientais e trabalhistas”, defende o movimento.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) afirmou que acompanha o debate legislativo, mas evitou comentar as tentativas de criminalização dos movimentos.

Desde que assumiu a pasta, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, tenta mediar os conflitos. No início de março, ele interveio em uma negociação entre o MST e a produtora de papel e celulose Suzano. Na ocasião, ele pediu aos militantes que desocupassem as fazendas.

CPI do MST

Na esteira da apresentação dos projetos de lei, deputados também pressionam pela abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar recentes invasões.

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), defendeu a necessidade de apurar os casos. “Tivemos um volume nas últimas três semanas que não víamos havia mais de 15 anos. Algo está fora do controle, alguém está financiando isso. Há uma motivação política muito clara por trás dessas ações criminosas”, afirmou.