Na noite de 13 de janeiro, vivi um dos momentos mais angustiantes da minha vida. Meu esposo, que já havia sofrido dois AVCs, começou a passar mal de forma assustadora: pernas fracas, boca torta, pressão alta, delírios, vômito com sangue e ardência intensa nos olhos. Tudo indicava que ele estava tendo outro AVC.
Liguei para o SAMU e descrevi os sintomas, mas a médica descartou a urgência e negou a ambulância, alegando que ele não apresentava sintomas de AVC. Desesperada, com a ajuda da minha vizinha e do meu pai, levamos-o às pressas para o pronto atendimento mais próximo.
Ao chegar, fomos recebidos com descaso. A médica perguntou se outra pessoa poderia atender, pois ela ia fazer um “lanche”. Como não havia ninguém disponível, ela avaliou e insistiu que não parecia um AVC, mas sim pressão alta. Somente depois de muita insistência, ligou para o Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), afirmando que o encaminharia apenas “por desencargo de consciência”, pois tinha certeza de que não se tratava de um AVC.
Enquanto aguardávamos a ambulância, presenciei o descaso na unidade. Não havia medicamentos e os pacientes eram tratados como objetos, sem empatia. As enfermeiras agiam com desumanidade. Meu esposo não era apenas mais um número; ele era um ser humano, com uma família, uma história, assim como todos ali.
No HMC, a diferença foi enorme. Ele foi atendido imediatamente e encaminhado para fazer uma tomografia que confirmou o AVC hemorrágico. Ali encontramos profissionais capacitados e dedicados: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, neurologistas, nefrologistas, assistência social e psiquiatras que cuidaram dele com atenção e dignidade. A estrutura, alimentação e assistência foram impecáveis.
Infelizmente, essa não é a realidade em toda a rede de saúde de Cuiabá. O descaso é alarmante; faltam medicamentos, estrutura e, sobretudo, comprometimento de muitos profissionais que deveriam zelar pela vida, mas tratam os pacientes com descaso e desumanidade. Meu esposo sobreviveu porque, após muito sofrimento, conseguiu chegar a um hospital com profissionais capacitados. Mas quantas pessoas não têm a mesma sorte? Até quando vidas continuarão sendo colocadas em risco por negligência e falta de preparo?”