O conselheiro da União Europeia no Brasil, Laurent Javaudin, marcou presença no Fórum Internacional da Agropecuária (FIAP 2024), promovido pelo Canal Rural em Cuiabá, Mato Grosso, nesta segunda-feira (9).
Em sua apresentação, coube ao adido esclarecer pontos do Pacto Ecológico Europeu (Green Deal) que, por vezes, é questionado por atores do agronegócio brasileiro frente às exigências ambientais na importação de commodities.
“Temos muitas políticas na União Europeia para lidar com desafios ambientais, como estratégias de biodiversidade, ambição de zero emissões de CO2, redução do uso de pesticidas e de fertilizantes químicos, substituindo-os por biopesticidas e biofertilizantes. Além disso, focamos em metas de zero desmatamento”, afirmou.
Javaudin salientou que as regras do Green Deal são voltadas, inicialmente, para o próprio mercado europeu. “Apenas depois dessa implementação interna é que aplicamos essas mesmas regras para os países dos quais nós importamos produtos”.
Papel do Brasil na segurança alimentar
Durante a apresentação, o conselheiro fez questão de ressaltar, por mais de uma vez, o respeito que o bloco econômico possui pela soberania nacional.
“A Europa não quer interferir no Código Florestal brasileiro. São as regras de vocês e o que acontecerá no Brasil será definido por brasileiros”.
De acordo com ele, a União Europeia também incentiva os seus produtores rurais a investirem em biodiversidade e a pouparem suas áreas florestais. “Todos nós concordamos que produtores rurais vivem na natureza e da natureza. Neste ponto, estamos, realmente, na mesma página”.
Além disso, Javaudin reconheceu que a evolução da agricultura brasileira nos últimos 50 anos foi primordial para que metas de fome zero até o ano de 2030, tal qual o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 2 (ODS 2) da Organização das Nações Unidas prega fossem mais palpáveis.
“Se vocês não tivessem feito todo esse avanço, a discussão sobre segurança alimentar mundial seria muito mais complexa. Ao mesmo tempo, todo o globo está ameaçado pelas mudanças climáticas que, por sua vez, reduzem a produtividade dos alimentos, assim como gera perda de biodiversidade, colocando em risco o alcance do ODS número 2″.
Além do Brasil, o conselheiro também salientou que a União Europeia detém grande responsabilidade com a segurança alimentar global. “Exemplo disso é que 60% do trigo que produzimos é encaminhado para o norte da África e 26% para o sul daquele continente. Ao mesmo tempo, o Green Deal se propõe a destinar oito bilhões de euros para ajudar outros países a desenvolver os seus próprios sistemas de produção sustentável”.
Segundo ele, tais propósitos e muitos outros que dizem respeito ao desenvolvimento sustentável do planeta foram assinados pelo Brasil, pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por muitos outros países em acordos internacionais. “Isso quer dizer que temos uma mentalidade muito mais similar do que as pessoas imaginam”.
Adaptação brasileira ao Green Deal
O conselheiro da União Europeia ressaltou durante o FIAP 2024 que o Green Deal é, basicamente, a implementação regional da agenda global de conservação e produtividade sustentável.
A respeito das imposições do pacto ecológico europeu, Javaudin afirmou que foram pensadas para os piores cenários. “Estabelecemos essas regras pensando em países que não possuem código florestal, que não têm cadastro ambiental, imagens de satélite ou outros mecanismos de controle. Nesse cenário, o Brasil está muito bem situado frente a tudo o que vem desenvolvendo nos últimos anos. Então, digo: podemos fazer juntos esse pacto acontecer e ser um sucesso para todos nós”, finalizou.